domingo, 12 de novembro de 2017

Medo: Meu Monstro do Calabouço


Esse monstrinho sempre me acompanhou e durante muito tempo o alimentei com minhas inseguranças, complexos, cobranças e opiniões. O medo já me amordaçou, já me paralisou, causou dor,me fez refém. Ele tinha mãos fortes, palavras convincentes, era persuasivo a ponto de fazer com que eu desacreditasse de mim.

Perdi amizades, amores, empregos, oportunidades de mudanças por ouvir esse infeliz sentimento. Por entregar a ele o rumo da minha vida. Parecia auto proteção, cuidado, preservação. Não! Era covardia, era pavor de assumir a possibilidade de não ser tão boa quanto eu gostaria, de não ser tão inteligente, de não ser eficiente no trabalho ao qual me proporia a executar, não ser tão atraente para o outro quanto ele era pra mim. Pavor de assumir o fracasso de não ser a melhor em tudo, assumir que não precisaria disso para ser alguém. De vestir a roupa do fracasso que internamente eu já acreditava que era.

Cada chance que eu me privava de viver, cada oportunidade que eu perdia, cada renúncia que eu fazia ia sufocando minha auto estima. Eu me flagelava emocionalmente, me açoitava com frases do tipo "tá vendo, você nunca vai conseguir. Sempre vai existir alguém melhor do que você." "Você não nasceu pra isso, desiste." E o medo? ele ria, crescia, se fortalecia.

Esse ciclo se repetiu anos a fio. Era como estar com uma ferida aberta largada num mar revolto, cheio de tubarões, a noite. Escuridão, dor e agonia. Três palavras que resumem bem o que o medo fazia comigo dia após dia. Fracasso após fracasso.

O medo fazia comigo... será? Pois é, demorei pra me perguntar isso. "Será que ele é tão forte assim?".
Depois de sofrer até o nosso limite a única alternativa que nos resta é lutar para mudar. Mas como mudar o medo e tudo que ele trazia consigo? Como?

Até que um dia o medo veio para mais uma sessão de tortura e eu decidi não fechar meu olhos e me curvar pra ele. Decidi abrir meu olhos, ficar de pé e olha-lo de frente. Minhas pernas tremiam, a boca secou, o coração em taquicardia. Eu estava de pé encarando meu próprio abismo. Como doeu. Ele se aprumou, de forma imponente como quem dissesse "quem você pensa que é, menina?". Permaneci de pé, trêmula. Ele se foi.

Foi um alento. Percebi que conseguia ficar de pé. Ainda que vacilante, ainda que vulnerável, ainda que frágil. Eu conseguia! Mas o Medo voltou, mais forte, mais feroz. Me derrubou, esfregou minha cara no chão como quem mostrasse que era lá meu lugar. Me senti inútil. Mas estranhamente, ainda queria me levantar, e levantei. Foi uma luta constante, árdua e demorada.

Cada vez que ele me derrubava e eu decidia que queria estar de pé, eu me enchia de mim. Me via tal como era e não como eu gostaria de ser. Percebia que não era tão perfeita como eu gostaria de ser mas era a melhor versão de mim a cada vitória solitária que eu tinha. Até que um dia, finalmente, consegui, fui eu quem esfregou a cara daquele maldito no chão.

Eu venci. E novamente olhei o medo nos olhos. Fortalecida, ereta, coração tranquilo e alma leve. Finalmente, dona de mim e de minhas fraquezas. Livre do meu ego "dodoizinho". Foi então que cheguei perto do meu adversário, sussurrei em seu ouvido: "A partir de hoje,você não me domina mais.Seremos aliados. Entendeu?"

Ele é teimoso, por vezes que me levar de volta ao calabouço. Minhas pernas vacilam, mas respiro fundo e digo. "Se você é teimoso, eu também sou."
Meu monstrinho agora sabe que não é tudo que eu sou, ele sabe que é apenas parte de tantas coisas que posso ser. Sou livre.

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