domingo, 27 de maio de 2018

Asas e Ninho






"Como você pode ir embora desse jeito?  Não percebe que preciso de você? Precisamos um do outro." - E foi assim, com essa sentença, que eu vi pessoas saindo da minha vida sem explicações, compreensão ou chances de recomeço. Eu não conseguia entender como uma relação onde tudo era tão intenso, acabava e que a simples necessidade da presença do outro era percebida somente por mim.

A duras despedidas, custosas saudades, dolorosas faltas que a vida foi me ensinando que precisar de alguém não é uma face bonita e saudável do amor (amor?). Foi me deixando sozinha e com a sensação de desamparo que a vida me ensinou sobre auto abandono, auto suficiência... Foi me deixando longe de quem eu acreditava precisar, que ela me ensinou o quanto eu estava distante de mim.

Cada vez que era "abandonada" não era só quem partia que me fazia doer, era a expectativa de felicidade que entreguei nas mãos dela, era minha idealização de relacionamento perfeito, era minha carência, minha completute... Toda vez que alguém "virava as costas" e ia, ela carregava tudo que eu tinha investido nela.  E a mim restava o vazio. A mim restava o lugar de abandono, de vitimização, culpa.

Foram necessários muitos anos revirando minhas dores, limpando as minhas feridas, encarando minhas fragilidades,meu orgulho... Precisei de todas as porradas que a vida me deu para entender a força que eu tinha e de fato quem eu era. Precisei que o vazio se instaurasse para que eu aprendesse a me preencher.

E hoje, cada vez que escuto "Meu dia não tem sentido sem você" ou "Você me completa" ou ainda "Não sou feliz longe de você", vejo minha liberdade gritar, surge uma vontade imensa de partir. É desesperador. Ter alguém dependente da sua presença, da sua alegria, do seu carinho, dos seus cuidados,para se sentir bem com ela mesma. Tudo isso é sufocante. Agora entendo.

Mas não pense que o aprendizado me tornou imune e completamente auto suficiente. Não é bem assim. Vez ou outra, me pego lutando contra um sorriso que me sequestra ,ou fugindo da euforia de desejar uma presença todos os dias. Vez ou outra, me vejo ali completamente entregue aos devaneios do pra sempre ao lado de alguém.  Certas pessoas carregam o dom de ruir com nossas certezas. Não sou imune.

Como posso vou me equilibrando nessa linha tênue, nesse malabarismo que é se preencher e se permitir ser preenchido. Se libertar sem se deixar perder nas mãos do outro. Como posso vou construindo meu próprio castelo pra morar. Acaso receba visitas, serei uma boa anfitriã, porém, se elas quiserem partir, a porta estará aberta e a solidão não me soará como martírio mas sim como companhia.

Não é possível conjugar o verbo Amar entrelaçado ao Precisar. Amor se enraíza ao que o faz querer voar e não ao que se agarra a seu pés. 

Foi com os pés machucados que aprendi. E hoje, olhando para minhas asas me permito, enquanto ser errante, voar e pousar onde meu sentir chamar. Sendo ninho, tendo no outro também um pouco de lar.

domingo, 20 de maio de 2018

Abraço da Covardia

Ph: Via Pinterest


Ouvindo uma canção sobre Saudade começo a pensar em você. Logo eu que me vejo tão livre assim, sozinha, sentindo saudade de uma presença que nunca tive. Na verdade, tive sim, tenho... E esse é o problema. Você está sempre aqui, revirando qualquer ideia racional que eu tente construir a respeito de nós dois.

Eu sei como seu beijo prende sem nunca ter provado, sei da firmeza das suas mãos sem ter sentido seu toque na minha pele, eu sei da força do seu gemido sem ao menos ter acordado seu desejo. Eu sei que nosso corpo não desejaria outra coisa além de se devorar ; Que minha fome é do tamanho do seu desejo.

Sei que nossa intenção queima e fenece e ressurge e ateia e inquieta...
Sei que você mora nas canções pra eu poder te encontrar sem ter que me explicar pra mais ninguém. Que você vem em melodia suave ou num "batidão" e me leva pra dançar com você. Dançamos nas entrelinhas do querer.

Até casa a gente já tem, sabia? Moramos no silêncio quando em um livro, a história fala de amor, ou de angústia, de ausência, de medo, de encontro... Moramos nas linguagens figuradas que remetem ao sexo e nos contos sacanas, escorremos de-li-ci -o-sa-men-te. (Cinquenta Tons é conto de fadas comparado a nossa cor.)

Me vejo livre assim, sozinha. Você me faz ver nessa liberdade algo que me impulsiona para nós.
Essa coisa gostosa que é "ser nós" ainda que sejamos só e apenas o que somos hoje (quase nada). 

Te vejo também livre assim, sozinho. Brincando de ser carente, pedindo colo e instigando beijos, carícias e sorrisos indecentes. E nada disso me faz esmorecer, sua liberdade não me amedronta ou me deixa enciumada. Te quero tão feliz, menino. 

Não sei se é possível dizer que relacionamentos perfeitos são feitos disso ou daquilo. Mas é possível sentir que não são feitos de algo tão diferente do que somos nós dois nas canções, nos sentidos, nos livros, paisagens, passagens...

Falando assim tudo parece tão simples, tão leve, perfeito. Só eu sei o quanto não é. Talvez você daí também saiba. Por vezes, te vejo recuar a cada tentativa de proximidade. Me vejo também nesses seus passos em falso. É, eu não tenho coragem, ainda não. 

Sei  o quanto o sentimento me preenche, o quanto a cor dos seus olhos adoçam e dão sentido ao brilho dos meus. Sei também que você só sai de mim quando não suporto me calar e te vejo ali no peso de cada lágrima.

E olha que coincidência: "Medo Bobo" começa a tocar. " Ah, esse tom de voz eu reconheço..." Passo de faixa, pra não ter que chorar de novo abraçada à minha covardia.