domingo, 26 de novembro de 2017

Reencontro


Fim de tarde, clima ameno, o vento acariciando meu rosto, me fazendo sentir parte dele em liberdade, em leveza em fluidez. Meus passos seguros, o caminhar firme, porém, apressado. Mãos livres assim como o meu coração. Olhar refletindo a vida que renasce a partir daquele momento, o momento que esperei a vida inteira. É assim que eu imagino nosso reencontro. Por um segundo, sem pensar se é certo, errado ou impossível.
Braços abertos, sorriso largo e mãos firmes. Seguro de si e de mim, inteiro para construir o "nós". Você ali, a beira-mar esperando tanto quanto eu por nosso abraço. Abraço que sempre foi nosso elo. Elo que nunca foi quebrado. E ao pé do meu ouvido proferir a frase que faz meu coração sorrir: "Que saudade de você!".
O abraço real, o seu cheiro ali. Aliás, não sei o que tem nele... Você me ganhou com ele,sabia? Com todo teor clichê que a situação me inspira, eu te digo que "seu abraço fazia meu mundo parar". Sorrir, por estar ali, por levar na minha pele um pouco de ti. É como se tudo que eu sentisse ficasse ali, transcrito em cada poro meu.
Uma conversa longa, sentados no chão, daquele jeito largado que a gente sempre teve... Olhar que não foge um do outro, mãos que se amparam, acariciam. Carinho, horas a fio sorrindo, se (re)conhecendo. E a cumplicidade, aquela velha amiga nossa. Posso fechar os olhos e sentir suas mãos deslizando sobre os meus cabelos...
Andar pela rua assim, sem pressa e sem rumo. E daí que anoitecer? As horas não nos prendem, nada mais nos prende. Nem passado, nem saudades, nem medos ou cobranças.Hoje, nosso agora é Amor e ele nos faz livres. Livres pra ser esse querer antes de ser explosão de desejo e de descobrir um desejo jamais explorado por nos dois.
Tocar seus lábios pela primeira vez e beijar, infinitamente, beijar... Dar ao desejo o corpo que insiste em subsistir nas fantasias. Ser sua ao deslizar os dedos por suas costas suadas e largas. Ser sua em cada sussurrar, em cada mordida. Sentir, cada espaço meu preenchido por tudo que é seu. Ver um Amor que nasceu com teu abraço morrer de desejo no seu peito.
Dormir sem medo de acordar com a saudade, sonhar só por teimosia, abraçar a realidade como uma criança ao seu brinquedo favorito. Não temer o ruído do despertador e todos os dias me derreter ao ver seu sorriso me dizendo: "bom dia".
Ter meu melhor amigo, companheiro, cúmplice, namorado. Não precisar dizer ou ouvir "Eu Te Amo" , por carregar em nossa história ,em cada renúncia que fizemos, a certeza disso. Te inspirar canções e escrever pra você. Cantar com você (embora voz não seja seu forte, nem o meu rsrs).
Fim de tarde, clima ameno, o vento acariciando meu rosto... Permaneço,olhos vagos ao infinito, esperando suas mãos tocarem meu ombro e dizer: "Oi, sei que demorei muito tempo mas será que a gente ainda pode conversar?".
O vento traz chuva, a água gelada toca meu rosto.
Acordei.

domingo, 19 de novembro de 2017

Rompimento




Saí de perto de mim.  É sério, o rompimento é definitivo.
Cansei dessa história de brigar e voltar como se não doesse,como se não me importasse com tudo que você faz. Cansei de sempre te esperar de braços abertos ainda que com a certeza de que tudo vai se repetir.

É sempre do mesmo jeito, brigamos, nos ofendemos, prometemos nunca mais falarmos um com outro e pouco tempo depois tudo é esquecido, fazemos as pazes. Um ciclo infindável que me desgasta.
Somos muito diferentes, eu sei. A questão nunca foi essa. Até porque sempre soubemos quem éramos desde o início. Conheço bem suas qualidades mas atualmente, são seus defeitos que me ferem. Reconheço que não sou uma pessoa tão fácil de lidar, sou instável, sou possessiva, falo demais.


Acreditei, durante muito tempo, que esse é o nosso jeito de amar. Que brigas alimentam nosso amor e que reconciliar é a parte mais gostosa dos nossos conflitos. Mas quando vi o quanto doentio isso soa... o quanto dependente isso é, me vi ocupando um lugar que nunca desejei.
Não estou aqui para te cobrar mudança alguma, muito menos para ouvir suas falsas promessas de que tudo será diferente dessa vez. Não estou aqui para pedir que largue tudo por mim, nem que me assuma como parte importante da sua vida. Isso já não faz diferença pra mim.

Isso que a gente vive não é, nunca foi amor. É dependência, agraciar de ego, é carência, idealização... é prazer pelo "Sentimento proibido". Brigar, ofender e não conseguir ficar longe um do outro pode parecer poético mas na vida real isso é doença. Tá me ouvindo: Isso é doença!
Amor a gente nutre com amor, com cuidado dia a dia, com respeito, companheirismo. Amor a gente põe acima da raiva, do orgulho, do egoísmo. Amor cala para não ferir. Quando que a gente fez isso um pelo outro? Nunca. Conversar sobre os problemas, falar sobre o cotidiano, compartilhar desejo, isso é só uma parte do as pessoas chamam de relacionamento, mas sem tolerância e respeito, pode ser tudo mesmo amor.

Hoje eu me liberto dessa relação doentia. E no que depender de mim isso termina por aqui. Não quero nenhum tipo de contato entre a gente, nenhum. Pra que continuar nutrindo algo que não funciona? Perda de tempo. Pode parando, não insiste. Esse não é mais um daqueles momentos que prometo sumir da sua vida,definitivamente e desisto. Você foi e voltou quantas vezes quis, eu também. Agora chega. Se desejamos ir tantas vezes ao invés de enfrentar as dificuldades, significa que nunca nos importamos em construir uma vida juntos.

Vai, dá valor pra o que você tem hoje, para a pessoa que você tem do seu lado porque igual aquela você não acha mais. A propósito, já percebeu que é ela que você ama? Que é ela que você não larga, que não tem coragem de fazer chorar, que nunca gritou ou ofendeu? Já percebeu que ao menor sinal de que ela se afasta você se desespera? Cara, dá valor agora porque quando ela também resolver que aquilo que você oferece é pouco pra ela, ela também vai embora. E ai, o que você vai fazer?

O que você vai fazer com essa sua carência e falta de maturidade? O que você vai fazer quando olhar para o lado e não tiver mais ninguém para te acompanhar. O que você vai fazer quando perceber que quis abraçar o mundo e deixou o amor escapar entre seus dedos.

Eu vou embora por mim, por finalmente entender que viver de idealização não combina com o que eu chamo de felicidade. Eu vou por saber que mereço mais do que ser uma mulher para você "variar" de vez em quando.
Hoje pela primeira vez eu não vou gritar, xingar ou discutir. Faço minha malas em silêncio e levo em cada uma delas o aprendizado de nunca mais vender meu amor próprio por desejo ou capricho. Minha dignidade acordou. As migalhas eu deixo aqui no mesmo lugar, não preciso mais delas
Cresce, menino. Vai ser feliz. Porque é isso que eu vou fazer de agora em diante.

domingo, 12 de novembro de 2017

Medo: Meu Monstro do Calabouço


Esse monstrinho sempre me acompanhou e durante muito tempo o alimentei com minhas inseguranças, complexos, cobranças e opiniões. O medo já me amordaçou, já me paralisou, causou dor,me fez refém. Ele tinha mãos fortes, palavras convincentes, era persuasivo a ponto de fazer com que eu desacreditasse de mim.

Perdi amizades, amores, empregos, oportunidades de mudanças por ouvir esse infeliz sentimento. Por entregar a ele o rumo da minha vida. Parecia auto proteção, cuidado, preservação. Não! Era covardia, era pavor de assumir a possibilidade de não ser tão boa quanto eu gostaria, de não ser tão inteligente, de não ser eficiente no trabalho ao qual me proporia a executar, não ser tão atraente para o outro quanto ele era pra mim. Pavor de assumir o fracasso de não ser a melhor em tudo, assumir que não precisaria disso para ser alguém. De vestir a roupa do fracasso que internamente eu já acreditava que era.

Cada chance que eu me privava de viver, cada oportunidade que eu perdia, cada renúncia que eu fazia ia sufocando minha auto estima. Eu me flagelava emocionalmente, me açoitava com frases do tipo "tá vendo, você nunca vai conseguir. Sempre vai existir alguém melhor do que você." "Você não nasceu pra isso, desiste." E o medo? ele ria, crescia, se fortalecia.

Esse ciclo se repetiu anos a fio. Era como estar com uma ferida aberta largada num mar revolto, cheio de tubarões, a noite. Escuridão, dor e agonia. Três palavras que resumem bem o que o medo fazia comigo dia após dia. Fracasso após fracasso.

O medo fazia comigo... será? Pois é, demorei pra me perguntar isso. "Será que ele é tão forte assim?".
Depois de sofrer até o nosso limite a única alternativa que nos resta é lutar para mudar. Mas como mudar o medo e tudo que ele trazia consigo? Como?

Até que um dia o medo veio para mais uma sessão de tortura e eu decidi não fechar meu olhos e me curvar pra ele. Decidi abrir meu olhos, ficar de pé e olha-lo de frente. Minhas pernas tremiam, a boca secou, o coração em taquicardia. Eu estava de pé encarando meu próprio abismo. Como doeu. Ele se aprumou, de forma imponente como quem dissesse "quem você pensa que é, menina?". Permaneci de pé, trêmula. Ele se foi.

Foi um alento. Percebi que conseguia ficar de pé. Ainda que vacilante, ainda que vulnerável, ainda que frágil. Eu conseguia! Mas o Medo voltou, mais forte, mais feroz. Me derrubou, esfregou minha cara no chão como quem mostrasse que era lá meu lugar. Me senti inútil. Mas estranhamente, ainda queria me levantar, e levantei. Foi uma luta constante, árdua e demorada.

Cada vez que ele me derrubava e eu decidia que queria estar de pé, eu me enchia de mim. Me via tal como era e não como eu gostaria de ser. Percebia que não era tão perfeita como eu gostaria de ser mas era a melhor versão de mim a cada vitória solitária que eu tinha. Até que um dia, finalmente, consegui, fui eu quem esfregou a cara daquele maldito no chão.

Eu venci. E novamente olhei o medo nos olhos. Fortalecida, ereta, coração tranquilo e alma leve. Finalmente, dona de mim e de minhas fraquezas. Livre do meu ego "dodoizinho". Foi então que cheguei perto do meu adversário, sussurrei em seu ouvido: "A partir de hoje,você não me domina mais.Seremos aliados. Entendeu?"

Ele é teimoso, por vezes que me levar de volta ao calabouço. Minhas pernas vacilam, mas respiro fundo e digo. "Se você é teimoso, eu também sou."
Meu monstrinho agora sabe que não é tudo que eu sou, ele sabe que é apenas parte de tantas coisas que posso ser. Sou livre.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Meu Ser Só


Não me olhe assim como seu eu fosse um ser de outro planeta. Tá chocado(a)? É isso mesmo, eu gosto de estar sozinha, as vezes. E isso não precisa ser um problema. Eu gosto, é simples.
Andar pelos cômodos da casa e ocupar cada espaço do jeito que eu quiser(ou não). Ser todos aqueles versos das canções que ouço, ou dos poemas que leio, sem ter que explicar isso ou aquilo. Gosto de poder ser silêncio, simplesmente ser.
Caminhar nua. Nua de alma, mesmo. Não sentir qualquer necessidade de vestir um humor para encobrir emoções. A verdade é que eu gosto da liberdade de morar em mim sem sublocar meus interiores, gosto da liberdade de abri mão de pagar taxas emocionais para morar em corações apertados. Gosto de preencher meu espaços e ser dona de cada poeira acumulada sobre o verbo sentir.
Não precisa argumentar, me chamado de egoísta. Esse adjetivo não me pertence. Eu me pertenço.É disso que eu gosto e ponto. Acho pesado demais nutrir um vazio esperando que o outro preencha, não é certo.
Não pense que sou triste ou individualista. Divido sim, minha vida, a convivência sob o mesmo teto, compartilho canções, livros, filmes e até faço o café. Mas entenda, aqui dentro de mim, quem constrói, destrói ou arruma sou eu! Disso não abro mão nunca mais. Demorei muito tempo para aprender que ninguém pode ser responsável pela mulher que escolhi ser, que as vontades são minhas assim como o preço que tenho que pagar por cada uma delas. Então, nem tente domá-las.
Talvez com tantos "Gosto disso, não gosto daquilo", você me ache um pouco mandona. Longe de mim. Não quero colocar rédea no querer de ninguém quanto mais no seu. Também te quero livre e dono de cada parte sua, de cada emoção, de cada ferida. Te quero inteiro e cheio.
Se parecer demais para você, a porta e todas as janelas estão abertas. As da casa e as do meu coração.
Se parecer demais e ainda assim escolher ficar, as portas e janelas também permanecem abertas. Não quero que pense que minha solidão quer aprisionar a sua. A propósito, eu já falei que o meu coração está aberto também, não é?
Fique a vontade, só não esqueça de tirar os sapatos ao entrar para não trazer poeira de vivências antigas. Isso meu bem, também não tem espaço por aqui.
No mais, tem abraço, tem cuidado e bem querer. Tem afago, tem cumplicidade e tem fogo.
No mais... nos transbordamos.