domingo, 30 de julho de 2017

Ecos

Crédito da imagem: Arte de viver 
Vivemos tempos estranhos, onde ser feliz  (ou melhor,parecer feliz) se tornou indicativo de status social... Nada contra a felicidade, por favor, o que quero dizer é que demonstrar felicidade parece mais importante do que de fato ser.
Já reparou como anda as redes sociais? Fotografias bem cuidadas, efeitos, brilho, cor... sorrisos largos e claros, pele impecável, corpo em ordem. Ai você,  reles mortal, com filho chorando querendo mamar, cabelo por lavar, depilação por fazer começa a se comparar com aquilo.
"Nossa, queria ser feliz como aquela pessoa. Ela acabou de parir e tem a cintura mais fina do que a minha aos 16 anos, é esse marido dela, o meu não chega aos pés. Prazer em trabalhar? Como se vivo para pagar as contas?" Ou "Nossa, com um carro desses, uma mulher gostosa, carteira cheia eu seria O cara".
Cada pensamento é um "maldizer" e ecoa pela vida, vai ressoando na mente, nos filhos, na casa, no companheiro (a), no trabalho. E tudo se transforma em pequenos fardos.
O valor da vida medido através do sucesso da vida de outra pessoa, o valor da vida medido pelos sonhos não alcançados.
E onde está a possível causa do problema? Ingratidão, orgulho, ignorância, falta de amor... -Não que isso seja uma verdade absoluta, podem ser inúmeras outras coisas.
A gente não pára para agradecer. Não tô falando de postar nas redes sociais um textao. Tô falando de bem dizer a vida, sorrir para o dia mesmo quando ele insiste em contrariar nossas expectativas. Tô falando de olhar para as pessoas que amamos e sentir aquele calor no peito na certeza de que elas são provas do cuidado de Deus. Tô falando de gargalhar mais e julgar menos.
Toda vez que você reclama de uma dificuldade você mata uma oportunidade de crescer. É aquela velha frase: nada é em vão.
Toda vez que você reclama das bênçãos que recebe todo dia, é como você disse se "isso não tem valor pra mim".
Sua vida pode não ser do jeito que você sonhou, a minha também não é.
Mas saiba, reclamar não vai tornar as coisas mais fáceis.
Não estou dizendo que quando houver dor,tristeza,fracasso, é hora de sorrir e dizer "Ah, como sou feliz!". Estou dizendo que acreditar que todo dia nublado passa, é trazer o sol mais pra perto.
Ecoe para a vida o bem que você carrega. O mal não suporta pessoas assim.

domingo, 23 de julho de 2017

Partidas

Fotografia: Arquivo pessoal.

Tenho uma relação de amor e ódio com rodoviárias, na verdade, é mais ódio do que amor.
Rodoviárias iludem, trazem a falsa ilusão de que o que tanto esperamos nos acompanhará além do agora e nos rouba no instante da partida.
É o aperto no peito e a lágrima que desce quando a porta do ônibus fecha. -Esteja você do lado de dentro ou do lado de fora. É a vontade de parar no meio do caminho e fazer o caminho de volta.
O que fica é sempre maior do que um abraço comporta, o que vai deixa um vazio maior do que a palavra "Saudade" é capaz de alcançar.
A cada curva que faço na estrada, o pensamento voa pela janela me levando para além das montanhas que me cercam. A paisagem é substituída por todas as lembranças que por não caberem em mim, transbordam pelos olhos.
O Amor que me faz ir é o mesmo que me faz querer ficar, e nesse conflito já nem sei mais o que parte e o que fica. Já não sei onde meu "eu" se completa sem faltar para alguém.
Tenho uma relação de amor e ódio com rodoviárias, na verdade, é mais ódio que amor...
Rodoviárias roubam. Roubam meus sonhos, sorrisos, afagos e beijos.
O cansaço que não incomoda tanto quando o destino já se aproxima e o cheiro de café que já pode ser sentido. O cansaço que não domina quando a conversa precisa ser colocada em dia e o colo de mãe não parece ter fim.
Rodoviárias me roubam de mim, e me devolvem aos pedaços. Fazem a tristeza de partir mais pesada que as tantas roupas que sempre carrego em minha mala.
Tenho uma relação de amor e ódio com rodoviárias.
Mas ai de mim... se não fossem elas.
Trazendo de volta o que me falta, me levando aos cantos que me completam... Abrigando os meus, numa espera de horas infinitas.
Recebo nelas, os sorrisos e abraços que me fazem esquecer porque as odeio tanto.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Metamorfose

Crédito da arte: Silvia Pelissero.

Sempre fui do tipo de pessoa que as pessoas costumavam chamar de "transparente". Era fácil saber meu estado emocional só de olhar para mim. O indicador principal, meu sorriso.
Pode parecer um pouco exagerado mas era assim que eu agia, na verdade eu me derramava. Intensa, no sorrir e no chorar. Não tinha essa história de "não é lugar pra isso"(ainda que tivesse meus momentos de choro solitário).
Lembro bem de um dia em especial que me marcou bastante:  uma confraternização de despedida - se é que posso chamar assim- de um amigo muito querido que eu tinha. Eu chorava, mesmo, aos soluços, do começo ao fim, os olhos inchados, vermelhos, em todas as fotos que tirei naquele dia. Não me importava com quantas pessoas estavam ali olhando para minha cara de boba, de maquiagem destruída... Eu só queria que aquela dor de alguma forma fosse embora, e ela queria ir embora pelos meus olhos. Fazer o que?
Era uma coisa bonita em mim. Era... Por estar conjugando o verbo no passado você já deve estar imaginando que algo mudou né? Sim, muita coisa mudou.
Os sorrisos ficaram mais comedidos, as lágrimas muito mais, recolhidas pela maior parte do tempo pela fronha do travesseiro.
A mudança só vista de uma forma bonita nos filmes americanos quando as soluções surgem do nada e tudo fica lindo. A mudança só é bonita quando pensamos na lagarta que se transforma em borboleta. Será que alguém pensa no que ela sentiu em cada etapa? O que custou ter seu par de asas coloridas?
Ainda não me vejo borboleta mas conheço bem o casulo. Talvez pelo tempo, maturidade, dores, traumas ou tudo isso junto. Esse amontoado de coisas lapidaram minhas atitudes de uma forma incontrolável. Quem me conheceu "na forma mais ingênua" que eu apresentava, hoje, me questiona: "Você está diferente". Uns dizem que sou mais forte, outros que estou mais fechada, ou mais fria, mais seca, insensível, e por aí vai.
Não sei como aconteceu. Só sei que quando a dor chega eu me fecho. Sabe a planta carnívora? Pois é, tipo isso. Eu engulo a dor, e quanto maior ela for, mais eu mergulho em mim mesma, mais eu me afasto do mundo ao meu redor. Aquela necessidade de gritar as dores a espera de que me pegassem no colo, foi embora depois que eu aprendi que se eu não descobrir como me curar, ninguém mais vai.
Por mais que tenhamos pessoas ao nosso redor, viver é solitário. Se a alegria chega, me visto dela e não faço questão de sair fazendo festa.
Viver é solitário, não é egoísta, entenda.
Em cada emoção que temos, somente nós podemos vivenciá-las, é impossível querer que alguém mais passe por isso conosco.
Um grito que alguém dá com você, vai doer de um jeito que só você sabe... Um beijo, vai unir seus pedaços de um jeito que só você saberá... Um abraço, traz o aconchego que só você pode sentir.
O que para alguém é só um incomodozinho,para você pode ser sofrimento.
Não dá pra padronizar emoções.
Músicas, textos, atitudes...nada consegue transpor o que é exatamente que você está sentindo.
E foi isso que eu aprendi. Só eu sei do que se passa dentro de mim, só eu sou responsável por isso.
Pensa que é fácil? não é. "A menina sorriso", simpática, espontânea, dos olhos que sorriem... virar silêncio. Mas é assim. A vida transforma a gente naquilo que precisa ser.
Sim, da saudade de algumas coisas. Principalmente, daquela mania de ver o lado bom em toda pessoa, em toda situação, de confiar primeiro e só desconfiar se tiver motivo.
Saudade passa, de tudo, até do que fomos um dia.
Ando de mãos dadas com o orgulho de saber que independente do que carregue em meu coração, o faço da melhor maneira que posso (ou consigo) e que sobrevivo as inconstâncias de ser mar revolto ou calmo, com o velho sorriso no rosto. Mar você sabe como é. Tem dias que você pára só pra olhar, em silêncio. Tem dias que ele te chama para mergulhar.
Isso não é pra qualquer um.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

À Esposa

Fotografia: Coockie Peste.
Oi, acho que você sabe quem eu sou, não é? Pelo menos sei que já ouviu falar de mim...
Nunca nos conhecemos mas em algum momento de nossas vidas tivemos nossas "intercessões".
Não estou aqui para falar disso, reabrir antigas feridas, nem acusar ninguém.
Só quero poder fazer algo que venho ensaiando a muito tempo.
Eu quero te pedir perdão, por tudo, mesmo.
Você não conhece o meu lado da história e acredito que pouco se interesse por isso também.
Salvos os detalhes sórdidos que não vem ao caso, quero que considere o fato de que embora eu soubesse da sua existência, eu nunca soube que você era "a esposa". Pra mim, você era apenas uma "ex namorada inconformada com o fim de um relacionamento." (pelo menos foi esse o discurso que ouvi e acreditei).
Eu não sei como tudo aconteceu, não sei. Só peço que me perdoe se um dia eu representei a cisão de uma família, ou o atrito de vocês. Se eu representei horas em que um pai faltou para um filho... Se eu fui a desculpa que fez você chorar sozinha no seu quarto. Se fui a ligação ou SMS escondidos. Se eu fui o carinho,atenção e respeito que te faltou. Se eu fui o pensamento distante dele. Se fui teu abandono... Me perdoe.
Cada possibilidade dessas foi remoída em minha mente a cada dia que eu descobria algo sobre vocês.
Você nunca me conheceu, não imagina como o meu caráter é algo inegociável. Mas diante das circunstâncias, talvez nunca acredite nisso. É a outra te falando que é uma boa pessoa, que não quis te fazer mal, que não quis trazer tristeza para sua família... (quem acreditaria nisso?)
Como mulher eu sei o que é passar por isso, e nunca quis estar exercendo o papel de amante (ainda que nunca soubesse que estava fazendo).
Ele sempre soube o tipo de mulher eu que sou, talvez por esse motivo nunca tenha me contato a história de vocês completamente.
Como eu disse, minha intenção não é reavivar nada nem me explicar para você.
Só quero que saiba que desde o momento que eu soube que vocês eram casados eu nunca mais admiti qualquer tipo de contato direto ou indireto.
Não guardo mágoas de ninguém, nem sequer sei a história completa, só vivenciei parte dela ( e não desejo isso pra ninguém).
Acredito que hoje estejamos bem. Você reestruturou sua família e eu daqui vivo minha vida dignamente.
Moça, espero que depois de ler tudo isso você tente modificar a imagem que tem ao meu respeito, que ao invés de ser "aquela vagabunda" você olhe pra mim só como uma pessoa imperfeita que até certo ponto foi ingênua.
Desejo mesmo, de coração, que você seja feliz.
Que eu seja "uma fase esquecida" por vocês, e se não for possível, que você se lembre de mim com a maior empatia possível. Afinal, não sou sua rival, nunca fui. Espero que um dia entenda isso.
Minhas dores eu carrego sozinha e o aprendizado que tive com elas também.
A vergonha de ter representado tudo que eu abomino, isso já não carrego mais.
Essa é minha libertação.