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É estranha essa coisa de pertencer a alguém, não digo no sentido de posse ou obsessão. Isso é outra coisa. Também não falo de sexo, de entregar o corpo para outra pessoa em nome de um prazer mútuo (ou não) e momentâneo. Falo sobre pertencer de forma mais profunda, em energia, ligação de alma, sabe? Amor, amor mesmo, que a gente constrói nas minucias, delicadezas de manhã em manhã. Nas renúncias silenciosas e escolhidas. Sim, escolhidas, porque ninguém é obrigado a abri mão de nada por outra pessoa e se o faz, nada tem a ver com o sentimento que Eros.
É estranha essa coisa de estar preso a alguém estando completamente livre. De poder ir e vir, por onde for, conhecer o mundo, e sempre querer voltar, sempre querer ficar. E não falo de lugar no sentido físico da palavra, falo de lugar como abrigo emocional representado pelo peito de alguém. Falo sobre querer ser o lugar de alguém, ser o melhor lugar pra alguém por nada além de amor.
É estranha essa coisa de se encontrar em alguém e não se perder de você mesmo. De se reconhecer em gestos e gostos que não são só seus, não necessitar de vocabulário rebuscado para descrever o que está evidente nas atitudes, olhares e beijos. Entender o momento de calar ou de confrontar. Se ver na dor de alguém e fazer o for preciso para ser a cura.
É estranha essa coisa de amor, de não saber de fato o que ele é mas ainda assim, compreender o que ele não é. Se fazer grito, voz, música, silêncio ou breu. Pertencer, se prender, se encontrar, e transformar a vida em um conjugar de verbos na primeira pessoa do plural. Desejando que seja infinito, ainda que não seja eterno.
É estranho quando um sentimento eterniza alguém em nós ainda que ele já tenha passado, seja passado, estranho como ele torna beijos, carinhos, abraços e presenças, insubstituíveis. Como constrói lembranças para acalentar dores, como reaviva saudades para relembrar importâncias.
Acho que no fim das contas, amar alguém é abraçar toda estranheza e se despir de certezas. Se permitir estar preso, abrigar, ser livre, ser lugar e ter um lugar. Ter a certeza de que em um mundo repleto de possibilidades, de gostos, sexos e sorrisos, um deles é fatal. Saber que entre esses benditos sorrisos, um foi feito para te destruir por completo, fazer de você o que bem quiser. Ah, isso sim, meu amigo (a) é pertencer a alguém.
Quando essa pessoa chega, nenhuma boca resiste, não há sentido que duvide da verdade que mora na expressão: "Sou seu/sua."