domingo, 23 de julho de 2017

Partidas

Fotografia: Arquivo pessoal.

Tenho uma relação de amor e ódio com rodoviárias, na verdade, é mais ódio do que amor.
Rodoviárias iludem, trazem a falsa ilusão de que o que tanto esperamos nos acompanhará além do agora e nos rouba no instante da partida.
É o aperto no peito e a lágrima que desce quando a porta do ônibus fecha. -Esteja você do lado de dentro ou do lado de fora. É a vontade de parar no meio do caminho e fazer o caminho de volta.
O que fica é sempre maior do que um abraço comporta, o que vai deixa um vazio maior do que a palavra "Saudade" é capaz de alcançar.
A cada curva que faço na estrada, o pensamento voa pela janela me levando para além das montanhas que me cercam. A paisagem é substituída por todas as lembranças que por não caberem em mim, transbordam pelos olhos.
O Amor que me faz ir é o mesmo que me faz querer ficar, e nesse conflito já nem sei mais o que parte e o que fica. Já não sei onde meu "eu" se completa sem faltar para alguém.
Tenho uma relação de amor e ódio com rodoviárias, na verdade, é mais ódio que amor...
Rodoviárias roubam. Roubam meus sonhos, sorrisos, afagos e beijos.
O cansaço que não incomoda tanto quando o destino já se aproxima e o cheiro de café que já pode ser sentido. O cansaço que não domina quando a conversa precisa ser colocada em dia e o colo de mãe não parece ter fim.
Rodoviárias me roubam de mim, e me devolvem aos pedaços. Fazem a tristeza de partir mais pesada que as tantas roupas que sempre carrego em minha mala.
Tenho uma relação de amor e ódio com rodoviárias.
Mas ai de mim... se não fossem elas.
Trazendo de volta o que me falta, me levando aos cantos que me completam... Abrigando os meus, numa espera de horas infinitas.
Recebo nelas, os sorrisos e abraços que me fazem esquecer porque as odeio tanto.

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