sexta-feira, 14 de julho de 2017

Metamorfose

Crédito da arte: Silvia Pelissero.

Sempre fui do tipo de pessoa que as pessoas costumavam chamar de "transparente". Era fácil saber meu estado emocional só de olhar para mim. O indicador principal, meu sorriso.
Pode parecer um pouco exagerado mas era assim que eu agia, na verdade eu me derramava. Intensa, no sorrir e no chorar. Não tinha essa história de "não é lugar pra isso"(ainda que tivesse meus momentos de choro solitário).
Lembro bem de um dia em especial que me marcou bastante:  uma confraternização de despedida - se é que posso chamar assim- de um amigo muito querido que eu tinha. Eu chorava, mesmo, aos soluços, do começo ao fim, os olhos inchados, vermelhos, em todas as fotos que tirei naquele dia. Não me importava com quantas pessoas estavam ali olhando para minha cara de boba, de maquiagem destruída... Eu só queria que aquela dor de alguma forma fosse embora, e ela queria ir embora pelos meus olhos. Fazer o que?
Era uma coisa bonita em mim. Era... Por estar conjugando o verbo no passado você já deve estar imaginando que algo mudou né? Sim, muita coisa mudou.
Os sorrisos ficaram mais comedidos, as lágrimas muito mais, recolhidas pela maior parte do tempo pela fronha do travesseiro.
A mudança só vista de uma forma bonita nos filmes americanos quando as soluções surgem do nada e tudo fica lindo. A mudança só é bonita quando pensamos na lagarta que se transforma em borboleta. Será que alguém pensa no que ela sentiu em cada etapa? O que custou ter seu par de asas coloridas?
Ainda não me vejo borboleta mas conheço bem o casulo. Talvez pelo tempo, maturidade, dores, traumas ou tudo isso junto. Esse amontoado de coisas lapidaram minhas atitudes de uma forma incontrolável. Quem me conheceu "na forma mais ingênua" que eu apresentava, hoje, me questiona: "Você está diferente". Uns dizem que sou mais forte, outros que estou mais fechada, ou mais fria, mais seca, insensível, e por aí vai.
Não sei como aconteceu. Só sei que quando a dor chega eu me fecho. Sabe a planta carnívora? Pois é, tipo isso. Eu engulo a dor, e quanto maior ela for, mais eu mergulho em mim mesma, mais eu me afasto do mundo ao meu redor. Aquela necessidade de gritar as dores a espera de que me pegassem no colo, foi embora depois que eu aprendi que se eu não descobrir como me curar, ninguém mais vai.
Por mais que tenhamos pessoas ao nosso redor, viver é solitário. Se a alegria chega, me visto dela e não faço questão de sair fazendo festa.
Viver é solitário, não é egoísta, entenda.
Em cada emoção que temos, somente nós podemos vivenciá-las, é impossível querer que alguém mais passe por isso conosco.
Um grito que alguém dá com você, vai doer de um jeito que só você sabe... Um beijo, vai unir seus pedaços de um jeito que só você saberá... Um abraço, traz o aconchego que só você pode sentir.
O que para alguém é só um incomodozinho,para você pode ser sofrimento.
Não dá pra padronizar emoções.
Músicas, textos, atitudes...nada consegue transpor o que é exatamente que você está sentindo.
E foi isso que eu aprendi. Só eu sei do que se passa dentro de mim, só eu sou responsável por isso.
Pensa que é fácil? não é. "A menina sorriso", simpática, espontânea, dos olhos que sorriem... virar silêncio. Mas é assim. A vida transforma a gente naquilo que precisa ser.
Sim, da saudade de algumas coisas. Principalmente, daquela mania de ver o lado bom em toda pessoa, em toda situação, de confiar primeiro e só desconfiar se tiver motivo.
Saudade passa, de tudo, até do que fomos um dia.
Ando de mãos dadas com o orgulho de saber que independente do que carregue em meu coração, o faço da melhor maneira que posso (ou consigo) e que sobrevivo as inconstâncias de ser mar revolto ou calmo, com o velho sorriso no rosto. Mar você sabe como é. Tem dias que você pára só pra olhar, em silêncio. Tem dias que ele te chama para mergulhar.
Isso não é pra qualquer um.

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