domingo, 18 de fevereiro de 2018

Tempestade



Desculpe, estou sem palavras ultimamente.Perdi ,meio ao meu cansaço, o desejo de estar perto. Não pretendo usar de melancolia para me expressar, mas a realidade é que a solidão tem me abrigado melhor do que qualquer outro abraço e o silêncio me compreendido melhor do que sons aturdidos dessa tempestade que carrego.
Você não ouve meus trovões, não sente os ventos, não suspeita sequer das nuvens negras? Pudera, seus olhos se acostumaram a papéis de parede das suas paisagens favoritas, a ponto de você esquecer que existem para além das janelas outros tantos tons de vida. Em minhas mãos só restou um querer exaurido de tanto ansiar te puxar adiante daquelas lacunas na parede. 
E aquele guarda chuva, sempre no canto do meu peito, foi perdendo o sentido de existir e te ver acometido pelo dilúvio que tento conter, já não me traz tanto pavor. Já não tem porquê te poupar, não tem porquê te proteger, não mais... Quero cada gota te esbofeteando a cara, quero cada raio te dilacerando a carne, quero cada vento te devastando por dentro.
Não pretendo usar de crueldade para me expressar, mas a realidade é que a mágoa tem me sufocado tão fortemente, a ponto de qualquer traço de perdão ser insuficiente para existir. Me restou o cansaço e essa força me expulsando para longe de você. Me desculpe a grosseria, já disse que estou sem palavras ultimamente.
Nesse vômito mal grafado, não pretendo usar de tons de ameça ou anunciar uma vingança que não pretendo exercer. Não pretendo ludibriar seus olhos com aquilo que não sou mais capaz de ser: passiva, inerte e vulnerável. Também não faço questão alguma de poupar seu ego das verdades que há tanto tempo mereces ouvir.
Sim, permaneço sem palavras. Aguardando, diante desse céu que começa a enegrecer, as nuvens que trarão minha alforria, esperando dolorosamente no estrondoso trovão a libertação dos meus gritos, ansiando pelas águas que escorrerão em meus olhos e carregarão do meu coração essa tristeza que enraiza.
Suspeito que ao que cabe à você, pouco poderá ser feito, já que que teve em suas mãos meu respeito e admiração e escolheu tratá-los no berço de crueldade e desdém. Verdades não poderão ser contestadas, fatos não poderão ser revogados, maldades não poderão ser desfeitas. Te restará o breu da saudade daquilo que um dia fomos nós. A princípio, aprecie o bom tempo. Mas lembre-se, no mais tardar, será razoável à você que ao menos saiba nadar.
Como diz o antigo ditado: "Quem planta vento, colhe tempestade"
(Que chova!)



Sugestão: leia o texto ouvindo a música "Santa Chuva", interpretada pela cantora Maria Rita.

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