sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Inocência Perdida



"O Amor perdoa qualquer coisa." Frase utópica lançada ao vento por pessoas que provavelmente não precisaram perdoar alguém que as feriram. Porque na prática, eu e você sabemos, que perdão é uma das coisas mais difíceis de se colocar em prática.  Perdoar dói, antes de libertar, perdoar machuca. Machuca porque tudo que nós queremos fazer quando alguém nos causa dor é revidar.  Ou vai me dizer que quando decepcionam você, a primeira coisa em que pensa é dar um abraço apertado no(a) infeliz e dizer " vem aqui, meu amor te liberta da culpa de ter feito mal a mim ?" Por mais espiritualizados que busquemos ser, não é tão fácil se desprender da dor. Não é.

Queria saber abdicar do meu desejo de sobrevivência emocional, dessa necessidade de me proteger a todo custo das feridas que podem me causar, mas eu não sei. Não sei esquecer com facilidade, não sei entregar nas mãos do tempo a tarefa de cicatrizar o que sangra, não sei sufocar com "eu te amo" o que precisa ser vomitado com um "some da minha vida!". Eu não sei mais negar a mim o direito de dizer "não" ainda que seja reflexo de um ressentimento antigo, uma mágoa pulgente. 

Dizem que não perdoar nos torna amargos, e não consigo imaginar outra possível consequência. É como se derramassem um balde de fel no poço de sonhos que construímos. Pelo menos foi assim que me senti quando, inesperadamente, me vi com esse gosto acre nos lábios. Não dá pra separar doçura de amargura depois que elas se misturam. O amor albugíneo  não vence a obscuridade do rancor. No fim das contas é isso, a gente passa a carregar um pouco de treva quando se vê vítima do engano e a partir de então, inicia-se a luta para que ela não seja maior que o desejo de ser feliz.

Até que enfim, decidimos perdoar, não como uma ação altruísta e milagrosa, mas como reflexo de um anseio incessante de retornarmos ao estado pleno de nada desconfiar. Na verdade, quando decidimos perdoar não desejamos a libertação do outro, buscamos resgatar a nós mesmos, resgatar o que era bom e outro matou. Você sabe, nunca mais seremos os mesmos. Mas quer saber o que nos faz luz ou treva? O desejo de lutar, o inquietante desejo de um dia voltarmos a ser ingênuos e amarmos tal qual uma criança. O que nos faz luz é a lembrança, ainda que distante, da doçura de amar sem reservas e o anseio de nunca perdê-la.




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