segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Partida




Com olhar angustiado, ela confessou seu desejo de partir. Falou das dores de não mais sentir, de não mais querer, de não mais amar. Falou também do cansaço que minhas teimosias fizeram nascer, das mágoas que meu egoísmo insistia em perpetuar... Minha imaturidade, dependência emocional e falta de empatia.
"Você nunca enxergou a minha dor"- disse, sussurrando.

Senti raiva. Como poderia me atribuir tamanha infelicidade?Como poderia se dizer tão ausente de amor, se a cada manhã ela me sorria e beijava a boca? Como? Se em cada erro ela me oferecia um abraço e perdão. Se, na cama, seu desejo me pertencia.  "Você nunca me amou." - Respondi, acusando.

Com o grito sufocado,  ela fez as malas. Nelas, colocou as poucas peças que precisaria levar. Deixou pra trás as roupas de festa, sapatos e acessórios. Deixou perfumes,  maquiagem e jóias.  Os objetos que a presenteie. Fotos, cartões e livros. Ela deixou também as lembranças, deixou o cheiro, o vazio na cama... Levou meus sonhos, viagens, possíveis filhos, família. Levou meu amor.

Com o peito dilacerado, entendi. Cada sorriso que ela me dava era tudo o que ela gostaria de receber. Que escondia suas dores porque eu não era capaz de acolher. Que me perdoava porque me enxergava muito melhor do que eu poderia ser. Me amou muito mais do que eu merecia.

Não pedi que voltasse. Não pedi que me perdoasse. Finalmente,  compreendi o quão injusto seria mantê-la em uma casa que deixou de ser lar a partir do momento que  desabriguei o amor para acolher o meu eu.

Chorei por mim e por nós. Chorei pelos anos que neguei à mulher da minha vida a reciprocidade capaz de nos nutrir. Chorei por não ter visto nosso elo se romper. Chorei até adormecer e acordar sozinho. Condenado a conviver com única coisa que me restou: o vazio de uma ausência.

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