domingo, 3 de dezembro de 2017

De Lagarta à Borboleta

Ph: via Pinterest
Há muito tempo atrás tive um encontro comigo. Pode parecer estranho, de fato é, mas durante grande parte da minha vida, eu não me conhecia.
Precisei da dor para me enxergar através dos meus olhos e me orgulhar de quem eu era.Precisei do abandono pra aprender a me fazer companhia.Precisei do vazio para aprender a me preencher...
É, não foi fácil (nunca é).
Desse encontro conquistei algo que antes me causava medo: a mudança. Eu tremia todas as vezes que sentia que meus alicerces poderiam ruir, fugia de todo e qualquer movimento que me tirasse do lugar. Queria estabilidade, segurança, sossego. Era meu casulo.
Aos poucos, fui percebendo que estar sempre no mesmo lugar, do mesmo jeito, rodeada pelas mesmas pessoas, não era segurança, era prisão. E a vida começou a sussurrar no meu ouvido: "Vem!". Mas eu ainda queria algo que me trouxesse firmeza aos passos.
A verdade é que sempre fui covarde. É, covarde. Preferia ficar onde não me cabia mais do que arriscar sair e dar de cara com uma possível frustração. E de imaginar não conseguir me adequar ao novo, eu cravava meus pés no chão. Feito mula empacada.
A vida continuou me chamando e eu resistindo. Tinha medo de sofrer. Que ironia. Quanto mais medo eu tinha de sofrer mais eu alimentava minhas feridas e as fazia crescer, e doer. Calava meus gritos até que um dia, não consegui mais fazê-lo.
Me apegava a pessoas, como se elas tivessem o dever de me proteger, de me adequar e em troca eu cuidava delas, carregaria o mundo e as dores de todos nas costas. E eu só queria uma coisa: segurança, a maldita segurança!
A vida não me chamava mais, ela foi me buscar. Feito mãe que diante de nossa teimosia nos pega pelo braço e diz "Não está escutando? Estou falando com você.". E eu tal criança pirracenta, queria ficar, jogava meu corpo no chão, fazia força para não sair do meu conforto. Dessa vez, não adiantou.
Sofri, como nunca imaginei sofrer. Mais do que temia sofrer. E me vi definhar, em sonhos, em objetivos, em alegria de viver...Eu não queria mais, estava cansada. O Nada me abraçou. Me abraçou mas não me confortou. Um incômodo estranho me invadiu. O vazio não era meu lugar.
Eu que tanto me escondi do mundo e dos desafios, agora queria sair, desbravar espaços, conhecer novos sotaques, paisagens e cheiros. Entendi, finalmente eu entendi, o que a vida queria me dizer. Moldes não foram feitos para mim. Fui feita pra ser livre. E esse ímpeto me fez ir, tal como a contração de um parto, a dor do desconforto frente ao desconhecido, me fez querer viver. Nascer para vida.
Hoje, me vejo desejante de transformações, numa ânsia constante por mudança. Quero descobrir todo universo que carrego em mim. Quero gostar de café e querer experimentar todo sabor de chás, quero usar tênis,andar descalço e usar salto agulha. Quero ter uma casa no campo e um passaporte carimbado. Quero amar e poder apreciar minha solidão.
Hoje eu quero tudo, e quero muito, porque aprendi que não preciso caber em lugar algum quando tenho o Mundo inteiro feito pra mim. De lagarta à Borboleta, entendo meus momentos no casulo,contudo, nada me faz mais feliz do que sentir o vento da liberdade em minhas asas.
Sei que nem sempre o céu é meu lugar, que preciso pousar em flores, repousar em galhos, e até mesmo me lembrar de quando era lagarta. Tudo bem, a vida continua acontecendo, e eu também. 

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